Poema: Visão de Clarice Lispector

glitter graphics
Hoje é o dia mundial do poeta!
Parabéns a todos os poetas: os grandes, os pequenos, os famosos e os anônimos, pois todos que fazem poesia devem ser festejados.
Fiquei pensando no que postar, pois temos grandes poetas: Mário Quintana, Fernando Pessoa, Neruda e nem vou continuar, porque já devo ter sido injusta esquecendo de todos os outros...
Lembrei de um poema que li algum tempo atrás, de Carlos Drummond de Andrade falando sobre Clarice Lispector...um grande falando de outra grande...achei que era perfeito para o dia de hoje.
Flores a todos os poetas do mundo!!!!!!


Visão de Clarice Lispector

Clarice,
veio de um mistério, partiu para outro.

Ficamos sem saber a essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
era Clarice viajando nele.

Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,
onde a palavra parece encontrar
sua razão de ser, e retratar o homem.

O que Clarice disse, o que Clarice
viveu por nós em forma de história
em forma de sonho de história
em forma de sonho de sonho de história
(no meio havia uma barata ou um anjo?)
não sabemos repetir nem inventar.
São coisas, são jóias particulares de Clarice
que usamos de empréstimo, ela dona de tudo.

Clarice não foi um lugar-comum,
carteira de identidade, retrato.
De Chirico a pintou? Pois sim.

O mais puro retrato de Clarice
só se pode encontrá-lo atrás da nuvem
que o avião cortou, não se percebe mais.

De Clarice guardamos gestos. Gestos,
tentativas de Clarice sair de Clarice
para ser igual a nós todos
em cortesia, cuidados, providências.
Clarice não saiu, mesmo sorrindo.
Dentro dela
o que havia de salões, escadarias,
tetos fosforescentes, longas estepes,
zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas,
formava um país, o país onde Clarice
vivia, só e ardente, construindo fábulas.

Não podíamos reter Clarice em nosso chão
salpicado de compromissos. Os papéis,
os cumprimentos falavam em agora,
edições, possíveis coquetéis
à beira do abismo.
Levitando acima do abismo Clarice riscava
um sulco rubro e cinza no ar e fascinava.

Fascinava-nos, apenas.
Deixamos para compreendê-la mais tarde.
Mais tarde, um dia... saberemos amar Clarice.


Carlos Drummond de Andrade



imagem: Flower Glitter Graphics

sábado, 20 de outubro de 2007

8 Comments:

Anônimo said...

Coloco a leitura em dia , é sempre bom passar por aqui .

Bom fim de semana .

Carmim said...

Cada um de nós, do seu jeito, tem um pouco de poeta, não é mesmo?
Sendo assim, um bom dia do poeta para ti.. =)

Bom fim de semana.
Beijos.

Pensamentos Ocultos said...

E não há nada como um bom poema !

Beijinhos e bom fim de semana !

Anônimo said...

Como sempre, seu blog gostoso de ler...Bom final de semana...

Mila Cardozo said...

Sempre me parece infinitamente surreal quando um grande fala de outro... parece assim como encontro de deuses que nos deixam ver o quanto ainda somos meros mortais...
Beijos Mila

R Lima said...

Parabéns a todos nós... a eu, a você e a tantos outros que por aqui passam e por aqui deixam palavras do pensar.

Bjs,


Texto de hoje: Verberação...

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O AveSSo dA ViDa - um blog onde os relatos são fictícios e, por vezes, bem reais...

Alice said...

Adoro esse lugar !! ler vc é muito especial !! bjus pra vc !

Fabiola said...

lindo!!!! lindo!!!!

 
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